As sepulturas dos Santos Apóstolos Pedro e
Paulo
1.
Tradição e fontes literárias e epigráficas sobre a
presença e
morte em Roma dos fundadores da Igreja Romana
2.
As catacumbas de São Sebastião: a Memoria Apostolorum
3.
Os
scavi sob a Basílica Vaticana
4.
Hipóteses
sobre as relíquias de São Pedro
5.
A
tumba de São Paulo
1. Tradição e fontes
literárias e epigráficas sobre a presença e morte em Roma
dos fundadores da Igreja Romana
a) Fontes Epigráficas:
os resultados positivos das escavações realizadas
entre 1940 e 1949 encontraram duas
dificuldades: ausência do nome de Pedro nos grafitos traçados pelos visitantes e ausência dos ossos de São
Pedro no local subterrâneo que tudo levava a considerar
como sendo sua sepultura original. Já em 1951 foi encontrado um fragmento
de argamassa proveniente do muro vermelho, com o nome de Pedro, em grego com os
dizeres "Pedro está aqui dentro". Há outro grafito mutilado no muro vermelho que também em grego diz:
"Salve Apóstolo!". No exterior do muro há grafitos de 290 e 315, criptogramas* significando
a relação especial entre Pedro e
Cristo e também as chaves prometidas
por Jesus a Pedro. Há uma aclamação que exclama: "Vitória a
Cristo, a Maria e a Pedro! "
b)
Tradição: Visitando as catacumbas, entra-se em contato
com sugestivas marcas do cristianismo dos primeiros séculos e pode-se, por assim dizer, tocar com as mãos a fé que
animava aquelas antigas comunidades cristãs. Nota-se que desde o início do
cristianismo, os cristãos amaram as catacumbas, mesmo quando depois das invasões bárbaras as catacumbas conheceram uma espécie de abandono forçado. Algumas delas, no entanto, permaneceram meta ininterrupta de peregrinações. Acredita também a tradição, que os crânios
venerados na basílica de São João de Latrão são os de São Pedro e São Paulo, sem,
porém, podermos confirmar a sua veracidade.
Fontes literárias: Não se encontram
fontes literárias contemporâneas aos
sepultamentos dos apóstolos Pedro e
Paulo, entretanto sabe-se que as catacumbas se iniciaram, segundo o Líber pontificalis, nas criptas do
Vaticano, onde o Papa Anacleto, sucessor de Clemente, construiu e adornou o
monumento do bem-aventurado Pedro e preparou um lugar de sepultura para os
bispos que viriam depois dele, onde foram
enterrados efetivamente até o ano 203. Durante a perseguição de
Valeriano, o corpo de São Pedro se ocultou no cemitério de São Sebastião ad catacumbas, levado novamente ao
Vaticano, após as escavações iniciadas em 1950 quando se encontrou a tumba de
São Pedro, junto à antiga necrópole com
ricos mausoléus do século II. Sobre a tumba de São Paulo sabe-se que,
devido aos estudos levados a cabo
especialmente sob impulso do Papa Paulo
VI, esteve na Via Ostiense e no cemitério de Lucina, onde se elevou um oratório no século I, destruído em
303, substituído por uma basílica constantiniana no ano 324 ou 325.
2. As catacumbas de São Sebastião: a
"memória Apostolorum".
As catacumbas de São
Sebastião são também conhecidas com o nome de "ad catacumbas",
localizam-se na Via Apia em frente ao Circo de Magêncio. Pergunta-se qual a
relação dessas catacumbas quanto a sepultura dos Apóstolos São Pedro e São
Paulo, uma vez que vários estudos constatam que seus corpos não se encontram
enterrados aí. É o que procuraremos explicar daqui por diante.
Se formos analisar os dados literários, percebe-se
pelos mesmos que há incertezas quanto à localização dos corpos de São Pedro e São Paulo. Quanto a São Pedro,
deduz-se que poderia estar situado no
Vaticano ou nas catacumbas de São Sebastião. Já buscando a localização
de São Paulo, este poderia estar ou na Vila
Ostiense ou também nas catacumbas de São Sebastião. Isso se deve ao fato
das atas dos mártires e calendários da época terem sido estudados. Eles indicam a localização das comemorações desses
Apóstolos. Sabendo que o costume era de se comemorar a festa no local
onde se encontram as relíquias dos cristãos celebrados, as provas literárias
deixam dúvidas por nelas constarem mais que
um local de comemoração. O que realmente
essas provas levam a pensar é que os dois corpos referidos estiveram em torno
de quarenta anos enterrados nas catacumbas de São Sebastião. Por que razão
estariam eles enterrados em determinada
época num local e depois se mudariam para outro? Por que, antes ainda,
teriam sido transferidos para as catacumbas de São Sebastião de seus lugares originais? Sabe-se do decreto de Valeriano,
que tirava a imunidade das violações
das tumbas, o que possivelmente deixou os cristãos temerosos quanto aos
sepulcros desses dois santos.
Faz falta obter mais dados estudando as
informações arqueológicas que podemos ter da época.
Enfocando-se, portanto, a questão agora do
ponto de vista arqueológico, pode-se saber o seguinte:
No século I, havia na Via Apia um arenário
utilizado como necrópole pagã.
Originariamente se acreditou que aí tivessem sido enterrados São Pedro e
São Paulo, o que foi logo descartado pela ausência de símbolos cristãos na
época.
Até o século III, com as
novas construções aí feitas, pode-se concluir que esse cemitério foi se tornando
cristão. Não se sabe o porquê das novas
construções que são feitas sobre as catacumbas já existentes: o fato é
que se constatam que essas construções são ulteriores e apresentam símbolos
cristãos, o que nos faz chegar à conclusão apresentada. Até aí não se observam provas arqueológicas de que,
neste local, estiveram São Pedro e São Paulo.
No entanto, no ano 250, observa-se um fato
interessante: todo o complexo, ainda em uso, é aterrado, sendo sobre ele
levantado um monumento de culto aos Apóstolos isento de tumbas. Como se explica
isso? Sabe-se também que, mais adiante, no
século IV, Constantino constrói neste mesmo local a Basílica dos
Apóstolos. São dados arqueológicos surpreendentes pois, atualmente, não se
encontram provas que constatem a localização desses dois Apóstolos aí. O que
poderia ter acontecido?
Tudo isso leva a pensar que, em determinado
momento da história, essas catacumbas contiveram as relíquias dos dois
Apóstolos, que para aí teriam sido transladados devido a perseguições entre os
séculos II e VIII. Perseguições como as das
épocas dos imperadores Décio e Valério, que autorizavam a violação e
profanação dos sepulcros.
Quanto a São Pedro, as provas arqueológicas
apontam para a seguinte probabilidade: devido a essas perseguições, sua cabeça teria sido transladada do Vaticano para as catacumbas
de São Sebastião: assim se concebia que este local, agora com a presença da
cabeça do mártir, era tido também como
lugar de culto e veneração a ele, assim como o Vaticano continuaria sendo local do mesmo culto e veneração, uma vez que continha o resto do seu
corpo. Isso coincide com as provas literárias antes vistas.
Posteriormente, novos estudos arqueológicos
levantaram a hipótese da cabeça de São
Pedro ter sido outra vez transladada retornando ao Vaticano, só que,
desta vez, sepultada em lugar diferente do seu corpo. A razão disso seriam perseguições visando as catacumbas de São Sebastião,
ocorridas nos anos seguintes, devido à fama que este local foi adquirindo pelos
cristãos e percebida pelos perseguidores.
Aí estão, portanto, as conclusões tiradas dos
estudos feitos em torno aos sepulcros de São
Pedro e São Paulo em relação às catacumbas de São Sebastião.
3. As escavações (scavi) sob a Basílica
Vaticana
A antiquíssima tradição, que dizia estar São
Pedro sepultado debaixo do altar da Basílica Vaticana, foi confirmada pelo resultado das escavações arqueológicas realizadas
no pontificado de Pio XII. Mais tarde, foram estudados os numerosos grafites, testemunhos da devoção e da
convicção de numerosos peregrinos
que visitaram o túmulo do Apóstolo antes da construção da Basílica
Constantiniana. Estudaram-se também cientificamente os restos mortais, os
ossos, encontrados e reconhecidos, o primeiro Papa.
Em 1979, João Paulo II mandou abrir
comunicação entre as grutas velhas e a confissão da Basílica, a fim de que os peregrinos vissem melhor o Sepulcro de Pedro e o
seu mosaico do século IX que mostra Jesus abençoando: uma das bênçãos é, sem dúvida o cuidado que teve com a sepultura de seu primeiro Vigário. As escavações
se iniciaram a partir da descoberta da existência de construções mais fundas ao ser colocado nas grutas da Basílica o
túmulo de Pio XI (morto em 1935).
A exploração foi
realizada durante os anos de 1939
a 1950 e de 1953 a 1957. Ficaram a vista 24 mausoléus
pagãos do século II, todos adornados no interior com pinturas ou mosaicos, além
de estuques (decoração feita em gesso).
Encontraram-se também
sepulturas do século I. Os mausoléus contêm alguns enterramentos cristãos do século
111. Em um deles se encontra uma inscrição singular. Com alguns espaços
reconstituídos forma a frase:
PETRUS
ROGA IESUS CHRISTUS PRO SANCTIS
HOMINIBUS CHRESTIANIS AD CORPUS SUUM SEPULTIS
Muitos mausoléus do século II eram de pagãos.
Podemos afirmar que a colina vaticana (local sob a Basílica Vaticana) continha
uma necrópole pagã em pleno funcionamento na época apostólica. Nesta necrópole,
em uma tumba humilde foi encontrado São Pedro.
b) Sucessão histórica
1º período:
Segundo o testemunho dos mais antigos
escritores cristãos, Pedro morreu
crucificado. Orígenes afirma que o Santo rogou para que lhe pusessem de
cabeça para baixo. Os Atos de Pedro, livro apócrifo, mas não destituído de
valor histórico, indicam que foi executado junto ao Obelisco de Nero. Acredita-se que isso aconteceu na perseguição do
ano de 64 ou 67.
Na colina Vaticana havia um cemitério onde se
acredita que foi o sepultamento de São Pedro. Nos anos posteriores fizeram-se
outros sepultamentos muito próximos ao de São Pedro,
o que mostra o desejo que tinham os primeiros cristãos de serem
enterrados próximos a seu primeiro Papa. Os sepultamentos são sempre próximos e
nunca sobre a tumba.
No século II foram surgindo os mausoléus em
torno a São Pedro. Posteriormente é
construído um muro que, pelo reboco que possui é chamado Muro Vermelho.
Ele se curva para formar um poço para as
relíquias da tumba de São Pedro. Coloca-se também uma lousa, formando
uma mesa. Este monumento foi identificado como "Troféu de Gaio.
Segundo Eusébio de Cesaréia, Gaio foi um
presbítero que o edificou sobre o sepulcro de São Pedro. Encontrou-se um
grafite no Muro Vermelho com o nome quase seguro de PETRUS. É dos finais do século II ou começos do século III.
2° período:
Esse monumento permanece
assim alguns anos. No século III levanta-se outro Muro
para reforçar o Muro Vermelho, e mais tarde outro muro. As
paredes se cobriam com mármore branco e o solo com mosaicos. No
século III o muro se enche de inscrições dos que visitam a tumba.
Construiu-se uma urna revestida de mármore. Acredita-se que aí foi
colocado o crânio
de São Pedro depois do translado do cemitério "ad catacumbas".
3° período,: (séc. IV).
Depois da construção da
Basílica do Salvador no Laterano, a Igreja e Constantino
decidiram construir outra dedicada a São Pedro, no Vaticano. O
local era impróprio pois seria sobre um cemitério que estava em pleno uso e tinha
ricos mausoléus pagãos. A área foi nivelada sendo determinada pelo Muro
Vermelho. Tudo o que se quis conservar se cobriu com uma abóbada sobre uma
edícula retangular. Aí se construiu o presbitério da nova basílica. Um baldaquino
cobriu o lugar.
O templo foi acrescentado
e reconstruído várias vezes entre o século V e o ano de 1400.
4. Hipóteses sobre as relíquias de São Pedro
No vão de um dos muros
foram encontrados ossos, pedaços de roupa vermelha, terra, fiapos de tecido de
púrpura com fios de ouro, uma moeda e lascas de mármore.
Os ossos foram estudados
mais tarde e análise antropológica provou tratar-se de quase metade dos ossos
de um mesmo indivíduo, robusto, de uns 60-70 anos, com
frontal volumoso,
quase sem dúvida homem, e não mulher.
O estudo microscópico
e a análise química disseram serem autênticos os fios de ouro. Como aparecem
vestígios de púrpura em alguns ossos, concluiu-se que o brocado de ouro os
envolveu: sinal de veneração e muito respeito. O estudo mineralógico provou
serem as lascas de mármore etnograficamente
idênticas às do interior do vão, e ser a terra que aderia aos ossos, igual à dos alicerces do Muro Vermelho, qualidade da terra, aliás, só descoberta
neste ponto do solo romano. E, se os ossos se apresentam com terra, concluiu-se terem eles vindo primeiramente
de um coral humilde e não de um sarcófago fechado.
Conclusão: os ossos
encontrados no vão do muro são de São Pedro. Assim se explica o
porquê do túmulo ter sido encontrado vazio. “Vazio porque Constantino
levantou os ossos acima da sepultura primitiva, quer os encontrasse In situ”. Quer restituídos do
"ad catacumbas", como vimos. Colocou-os no vão, mandando então cavar
no muro pré-constantiniano, subtraindo-os
assim à umidade, a profanadores ou a devotos indiscretos.
É importante salientar um detalhe: é possível
que os restos mortais de S. Pedro tenham sido transladados para "ad
catacumbas" quando Valeriano proibiu em 258 as reuniões dos cristãos nos
cemitérios, e em 336 foram restituídos ao Vaticano.
5. A tumba de São Paulo
a) Segunda prisão em Roma e Martírio (66-67
d.0 ?)
·
São
Paulo esteve novamente preso em Roma, talvez no outono de 66 d. C. (cfr. 11 Tim 4, 9.21, quando São Paulo convida
Timóteo a unir-se a ele antes do inverno).
·
Ficou
preso em um cárcere público com delinquentes comuns e mantém seu interesse
pelas igrejas e pelo apostolado (cfr. 11 Tim 4,11).
Foi decapitado como
cidadão comum junto a Tre Fontane (Acquae Salviae). Segundo
a tradição, a execução provavelmente ocorreu no
ano 67 d.C, durante a perseguição
de Nero.
b) Exploração do Arquiteto Vespigniani (ano
1833)
·
Este
arquiteto reconstruiu o altar papal e deixou uma descrição e um desenho muito deficiente, do qual se pode deduzir:
1.
Em uma área cemiterial usada nos séculos 1 a III, talvez no solo do columbário
deste cemitério foi depositado o corpo de São Paulo.
2.
Havia
um muro de "opus
reticolatum”2 que protegia a tumba possivelmente com uma grade de ferro.
3.
Foram
encontradas duas inscrições neste muro: "salus populi" datada da metade do século e outra, de duas partes, colocada a 1,57 cm sob o altar maior, fazendo de
cobertura de um vão subterrâneo onde está inscrito: "Paulo
Apostolmart".
4.
Também
foram encontrados três buracos sobre a inscrição PAULO feitos depois porque se
vê que atravessam as letras. O buraco redondo parece possuir uma tampa: existem três marcas onde pode ter sido fixado ou
uma peça. Três poços de uso
desconhecido comunicam estes três buracos.
O buraco redondo pode corresponder a uma passagem até a tumba de São
Paulo.
5.
A placa de mármore da tumba é da época constantiniana,
segundo Rossi e Stevenson – ou da Teodosiana, segundo opinião mais segura.
c) Conclusão: São
escassos os dados literários sobre a tumba de São Paulo:
espera-se que algum dia este monumento seja explorado. A Tradição
afirma que esta basílica,
antes denominada dos "três Imperadores" conteve os restos do "Apóstolo das Gentes".
Agora se denomina "São Paulo Extramuros .
https://www.youtube.com/watch?v=BhhEKl9dIeA
https://www.youtube.com/watch?v=_y8wVb6diSY
https://www.youtube.com/watch?v=i_XoP4x3DLI
https://www.youtube.com/watch?v=aQNchugB3hc