Onde o arquiteto cristão do século IV foi encontrar o modelo de basílica?

A Arqueologia se faz esta pergunta e procura os tipos de construções da época: . As termas: Formadas por gigantescas salas de banhos, normalmente três, o frigidarium, com piscina de água fria, o tepidarium, de água temperada, e o caldarium de água quente, instalações esportivas (ginásio, pistas, etc.) e culturais (biblioteca, arquivo, etc.) -, o teatro, para representações dramáticas ou burlas, o anfiteatro, equivalente ao circo atual mas com grandes espetáculos cruéis (lutas de gladiadores, feras, etc.) e o circo destinado às corridas de carro. Justificativa: Não oferecem a menor possibilidade de influir no templo da Boa Nova; todos estes eram lugar, ou do martírio de seus fiéis, ou da expressão da máxima imoralidade pagã, ou os dois ao mesmo tempo. Além disso, arquitetonicamente não oferecem as condições requeridas para o novo templo: uma sala ampla que possa acolher um grande número de pessoas, com suficiente iluminação. Com o tempo e excepcionalmente, alguns destes edifícios foram transformados em templos cristãos, como o tepidarium das termas de Dioclesiano – hoje Santa Maria dos Anjos -, em Roma, ou o Ginásio de Éfeso, que passou a ser igreja dedicada a Nossa Senhora.

A Casa Romana (ou casa Patricia)

  •  A casa patrícia(ou casa romana): tanto campestre como urbana. Um andar, no máximo dois, ao redor de vários pátios. Justificativa: Dela procedem, com toda segurança os mosteiros, mas é inadmissível que proceda a Basílica, pois obriga à inversão funcional de todos os elementos: o pátio dá luz aos ambientes laterais e recolhe a água de chuva, exatamente o contrário ao papel da nave central de uma basílica. Por outro lado parece que o átrio da basílica sim foi inspirado na casa patrícia. 
  • A insula: edifício de até seis ou sete andares composto por quatro blocos ao redor de um pátio central e dividido em núcleos de dois ou três quartos destinados a serem alugados, aos que se acede por galerias de madeira nas fachadas do pátio, unidas por escadas nas esquinas e janelas abertas a estes corredores. Justificativa: Evidentemente nada teve que ver com o templo cristão, por seu tipo de arquitetura.

O templo pagão

 
  • O templo pagão: Logicamente é sem utilidade para o uso cristão. Sua organização está destinada a um culto ao ar livre, verificado em torno a um altar situado no pátio, diante da edícula, quarto do deus, ou deusa –ou deuses – que habitam suas imagens. Além disso, ideologicamente é um lugar anticristão por excelência, em pleno uso, nas cidades até o tempo de Teodósio e no campo, esse período se prolonga mais ainda, em muitos casos até a Idade Média. Daí se origina o nome “pagão” (habitante do “pago” rural), como homem não cristão. Justificativa: No entanto, todos os templos conservados (Panteão, Casa Quadrada de Nimes, Acrópole de Atenas, Catedral de Siracusa, etc.) chegaram até nós por haverem sido transformados em templos cristãos, mas certamente não nos alvores da paz da Igreja.

A BASÍLICA: ORGANIZAÇÃO GERAL

 
  •  A basílica civil: A basílica civil tinha em sua origem, sala de recepção para todas as funções públicas do monarca helenístico, parte fundamental de seus palácios: daí o nome de Basilicos (real). Em Roma, porém, foi lugar de comércio e administração de justiça. Justificativa: A basílica carece de toda simbologia pagã e possui, além disso, a tradição de grande casa real, dos elementos que deveram ser gratamente considerados por aqueles cristãos que deviam construir os novos lugares de reunião da Igreja. Mas, além disso, e o que é muito importante, a organização arquitetônica de tal edifício se adaptava perfeitamente às novas necessidades: um grande espaço coberto e amplamente iluminado com duas zonas claramente diferenciadas: aquela do “basileos” ou da administração de justiça –a exedra -, e a destinada ao povo –ou ao comércio -: as naves. Todos estes edifícios – e nada mais que estes – foram os que conheceram o arquiteto que se propôs edificar uma organização que servisse às necessidades do culto, o ensino, etc., do primitivo cristianismo. Não é de estranhar, pois, que a basílica fosse escolhida como elemento básico do novo projeto, mas não o único. Outros elementos lhe serão fornecidos pelos outros edifícios. 
  •  Elementos da Basílica Para maior claridade e compreensão da nomenclatura formal da Basílica parece conveniente descrever, de forma muito sumária, os elementos de uma basílica ideal, seguramente em nenhum exemplo real existente; o conhecimento desta disposição teórica permitirá, segundo a carência ou especial disposição de algumas de suas zonas, uma ulterior classificação dos complexos basilicais e facilitará a descrição dos mesmos.
ÁTRIO: pátio com pórticos pelo qual se entra à edificação. Nos pórticos podia haver quartos para sacerdotes, viúvas ou virgens, lugares de reunião e catequese e, ás vezes, o batistério. Lá ficavam os catecúmenos que não entravam para a missa e os que estavam fazendo penitência pública. Normalmente o átrio fica antes da igreja, mas há exemplos de átrios laterais. Em um lado oposto à entrada, o átrio dá passagem ao: NARTEX: espaço coberto intermediário que facilita o recolhimento, isolamento e quietude – antes de ingressar na: NAVE: forma o corpo central da basílica. É o lugar destinado a acolher o povo e a schola cantorum – a agrupação do coro, que acompanha as ações litúrgicas mais solenes. A divisão em naves foi necessária por causa do problema da iluminação.
Normalmente são cinco naves e não mais, por causa da iluminação. Ainda que, na África, ao substituir-se o telhado por terraço e diminuir assim a importância do problema, existem basílicas de nove naves, sendo muito raras as de sete. A nave central costuma ter o dobro da largura das naves laterais. Pode haver tribunas, corredores superiores nas 2as. e 3as. naves. A cabeceira destas naves se abre ao: TRANSEPTO (trans-septa – o que fecha) – espaço transversal entre a cabeceira e as naves, origina a chamada “planta de cruz latina”, própria do ocidente. Lugar do altar e das sacristias (pastoforios) -, que fica rematado pela: ÁBSIDE, ou presbitério, lugar reservado aos presbíteros e oficiantes e mais elevado em relação à nave, por motivos de visibilidade. Muito frequentemente é fechado por cancelas. É onde se situa a CÁTEDRA - trono solene para o bispo – e o altar no caso de não haver no transepto.